2006-08-02

amemos os animais


Aquando das minhas deambulações matinais, em busca de algo que me alimente não só esta carcaça decrépita, como também a alma, deparo não poucas vezes com gente benemérita para com toda a fauna que pulula nas nossas urbes. Gente que confunde o pão com o milho, o bacalhau com a petinga ou até umas barriguinhas com aparas de carne. Tudo em prol dos animais, esses nossos amigos, que enfeitam e distribuem vitalidade pelas nossas ruas, praças, becos e vielas. E vejo-as tão abnegadas, distribuindo em restos em tupperwares imundos de gorduras e pedaços de bolorentas doses de pão ressequido, as peganhentas doses de chicharros nauseabundos e tesos pela secura, fragmentos de verduras, puré de batata e pastas viscosas que o cheiro e a visão não permitem desrutinar a sua génese. Depois é ver essas mesmas almas, clamando as atenções dos "pilotos", "piruças" e outros seres alados, ululando pelos seus nomes, na esperança de receber em troca um abanar de cauda, um doce ronronar ou meia duzia de caganitas nos xailes puídos e desgastados com o tempo.
"São criaturas de Deus", dizem. Eu continuo a achar que tanto desperdício de comida fazia mais falta aos pretinhos, coitadinhos, que anseiam ávidamente por mais comida e menos intenções. Mas cada um prestará as contas que tiver que prestar ao Nosso Senhor.